quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma lágrima em uma alma de luz

Era um horário avançado da noite. A jovem médium não conseguia dormir. Deitou-se em sua cama numa tentativa de descansar o seu corpo e obedecer o desejo de libertação de seu espírito cansado de permanecer por longo dia preso à matéria. Naquela noite fria de um inverno gelado, parou olhando para o teto no silêncio de seu quarto, escuro, porém com uma pequena quantidade de luz pela fresta da porta.
Estava cansada da sua ideologia espírita umbandista. Tudo lhe parecia contrário. Todos eram contra suas crenças, perdera o emprego, não tinha mais namorado ou amigos. Revoltou-se com a religião, achando esta ser a grande culpada de seus problemas. Ledo engano. Esta seria apenas o começo da sua evolução.
Questionando a espiritualidade em silêncio, mentalizou a seguinte pergunta: "Fui abandonada pelos ditos 'amigos' espirituais. Onde estão vocês agora que estão em meio a tantas dificuldades?". E não obteve resposta. Sua audiência estava bloqueada e não conseguia ouvir a resposta dos espíritos amigos. Ao fechar os olhos, não conseguia vê-los. Não sentía-os ao seu lado. Espiritualmente estava em estado vegetativo.
Apenas estava disposta a reclamar e nunca via os lado positivo das mudanças que estavam lhe acontecendo. Havia realmente se tornado uma umbandista de verdade. Tornou-se mais caridosa, tinha reais noções de hierarquia, ajudava os outros, se tornou humilde. Tudo que lhe aconteceu derivou de sofrimento pregresso.
Simplesmente continuava a questionar...
De repente foi tomada por uma forte dor de cabeça. Sentia seu corpo fraco e mais uma vez questionava a tudo dizendo que o exercício extremado da mediunidade e a "cobrança" dos Orixás e Entidades porque ela não exercia suas funções estavam consumindo sua vida. Estava totalmente obcecada com pensamentos maléficos a respeito da mediunidade.
Fechou os olhos e por um instante conseguiu dormir. Ao acordar no mundo espiritual, viu ao seu redor um casal de negros velhinhos, um casal de caboclos, boiadeiro e marinheiro, um exu e uma bombogira, um casal de crianças. O menino veio na direção de sua cama e lhe deu com um gesto de muito carinho um doce para comer.
Subitamente acordou, lavou o rosto, foi à cozinha beber um copo d'água e refletir um pouco sobre aquele sonho. Sua fé foi renovada. Foi dormir feliz novamente com a Umbanda e não mais sentiu-se sozinha.
Ao retornar ao hospital, uma bela mulher veio em sua direção e ela questionou:
- Porque quando eu estava pior vocês não vieram ficar comigo?
- Porque você ainda não estava pronta para perceber os benefícios que estavam ocorrendo em sua vida. Além disso, você mesmo precisava se encontrar com relação à sua fé. - respondeu a mulher.
- O que eu estou fazendo aqui neste lugar?
A bombogira respondeu:
- Cuidando do seu espírito, tão castigado, mas que apesar de não exercer a mediunidade como deveria, mesmo assim continua exercendo-a auxiliando os outros de outras formas.
Pela manhã, ao acordar agradeceu a ocorrência daquele sonho bom e em seu ouvido uma voz doce e feminina sussurrou: - Não te aflijas, minha médium amada, nós estamos sempre com você.

A dificuldade de compreensão das religiões africanas

Retorno ao blog cheia de idéias na minha cabeça, e uma delas diz respeito à visão politeísta que algumas pessoas tem em relação às religiões espiritualistas de origem africana.
Pensemos as religiões politeístas da Idade Antiga, falando mais especificamente de Grécia e Roma. Como informado pela história, os gregos adoravam diversos deuses, sendo cada um deles responsável por algum fenômeno da natureza. Assim sendo, Poseidon era o rei dos mares, Afrodite a deusa do amor e da beleza, Ares o deus das guerras, Hermes o mensageiro dos deuses, Hades o senhor dos infernos, Artemis a deusa da caça, Atena a deusa da sabedoria, Zeus o deus supremo. Em Roma, a religião tinha a mesma base, porém os nomes dos deuses tinham relação direta com os planetas do sistema solar, por exemplo Afrodite = Vênus; Ares = Marte. Em que difere dos nossos irmãos de religião católica por exemplo, onde Deus é o ser supremo, e os Santos são pessoas que tiveram grande devoção ao Supremo e onde cada santo é mais específico e tende ao atendimento de uma determinada causa? Ora, não podemos dizer que nenhum de nós é politeísta, afinal todos cremos em um Deus supremo e maior, e em espíritos iluminados que estão logo abaixo deles como os Orixás e os Santos...
Para esse impasse as palavras de ordem são COMPREENSÃO e RESPEITO. Não podemos discutir sobre aquilo que não procuramos nos informar nem entendemos. Não podemos menosprezar a cultura e as crenças alheias. Não podemos condenar alguma fé sem avaliar se nela realmente existe algum fundamento. Quantas pessoas não vão a terreiros totalmente descrentes e após ouvirem algumas coisas pessoais sendo ditas por uma entidade, incorporada em uma pessoa totalmente estranha a ela, que jamais teria como saber aqueles segredos tão íntimos, não sentiram pelo menos a veracidade dos fatos e não saíram pelo menos intrigadas daquele centro? Quem nunca sentia certa curiosidade e até certo medo? Se os Santos não regem as leis da Natureza em conjunto com Deus, qual seria o sentido deles existirem?
Perguntas, perguntas, várias teorias, várias respostas... Não há respostas certas, nem erradas. Apenas interpretações divergentes.
A base de tudo está em ouvir o próximo e compreender, bem como aceitar, sua opinião. Afinal, gostaríamos de ser respeitados da mesma forma. Apenas com esta atitude somos capazes de viver em paz, na comunhão entre irmãos que todos somos, e viver com ecumenismo, ou seja, com a presença de Deus em todos os povos.
Axé...